segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Sobre hackers e crackers - conclusão


Feita a distinção entre os termos "hacker" e "cracker" (vide postagem "Sobre hackers e crackers- parte 1/ informação), gostaria de abordar, sem uma visão maniqueísta (bom X mau, bem X mal), o que distingue um e outro sob uma análise mais "interna". Um hacker carrega em sí um cracker e vice versa...O que detona a metamorfose ( o médico e o monstro...) ? Dito em outras palavras, o que faz aflorar o nosso lado sombra (como diriam Jung e Freud) ?

Heráclito, filósofo da Antiguidade, e mesmo a tradição cristã já reconheceram os opostos que um homem traz dentro de sí. São Paulo já dizia: "- Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero". Reconhecer o nosso lado sombrio é a raiz da integridade; autoconhecimento talvez seja a palavra chave...não da felicidade, mas da adequação ao contexto social, do ponderar dos atos, do controle sob os impulsos destrutivos,instintuais e ancestrais que todos - por herança - carregamos.

Quando vejo lixeiras, telefones e bancos públicos depredados, vírus em meu computador, sei que são atos de alguém que só conhece um lado de sua moeda e, por não identificar seu lado sombra é presa fácil da sedução do "mal" e adepto do recurso de projetar no outro (leia-se: sociedade) o lado ruim que não reconhece em si mesmo...Penso que a cisão entre o lado claro e a sombra é útil; porém, ambos deveriam ser uma totalidade, pois que partes de um mesmo ser. O desequilíbrio ocorre quando um se sobrepõe ao outro: ou ofuscando pelo excesso de luz, ou impedindo a visão do real pela escuridão... o que - em ambos os casos - distorce o autoconhecimento e a percepção do externo...

O lado sombra não é necessariamente mau desde que se conecte e amalgame à personalidade, desde que se sublime. O problema é que, na maior parte das vezes, este lado aflora lançando sobre o outro toda a maldade de si mesmo que, por a ela estar cego, não reconhece como sua ... Onde entram os hackers e crackers nessa história? Respondo com a seguinte pergunta: Qual de nós pode se gabar de ter um computador absolutamente original (ele é fruto de um hacker), sem nenhum programa que foi crackeado (isso é trabalho de um cracker)? "Atire a primeira pedra aquele que nunca pecou"...Conheçâmo-nos antes que aos outros...A chave é essa...

Sobre hackers e crackers - Parte 1/informação


Normalmente acontece, quando nos apropriamos de palavras estrangeiras, uma deturpação de seu significado original. Hacker e cracker são típicos exemplos disso.Algumas pessoas só conhecem a primeira palavra e, nunca sequer ouviram falar da segunda...
Hacker (termo relacionado ao verbo "cortar" nas linguas germânicas) é uma palavra que está associada ao ato de inventar, modificar algo para que realize funcionalidades outras que não as originais. Hackear equivale a agir criativa e originalmente.Após a criação da palavra "hack" (na década de 50, o grupo PST - Tech Model Railroad Club, assim denominava as modificações inteligentes que faziam nos relês eletrônicos) ocorreu uma generalização dessa palavra e hoje, designa indiscriminadamente qualquer pessoa extraordinária no campo da Informática. O que é esquecido é que hackers criaram a Internet, o Windows, o Linux; são os especialistas de segurança nas grandes empresas, por exemplo...

Com o erro criado pela mídia e o advento da Internet de fácil acesso, os hackers passaram a ser vistos como pessoas de dupla face: uma brilhante, "do bem"; outra "do mal". Passaram a ser temidos como aqueles que invadem nosso PC, se apropriam de nossa senha (principalmente de bancos), utilizam keyloggers e acabam com nossa privacidade... Como resposta a essa deturpação do termo original, os hackers inventaram a palavra "cracker" (quebrar) para designar aquele que utiliza, para propósitos ilícitos, conhecimentos abrangentes de Informática. O cracker faz uso de Engenharia reversa (conversão de códigos aplicados, por exemplo, na análise de um vírus ou atividades ilegais como quebra de proteção de sigilo, entre outras), proibida em vários países, com exceção às análises de malwares. Enfim, à palavra cracker é atribuído o lado "mau" do hacker...Abordarei esse assunto na próxima postagem...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sobre e mails com mensagens de motivação


Recebo e envio frequentemente mensagens de motivação - carinho no formato de e mails. Como é prazeroso! Lembrâmo-nos com gratidão daquele que pensou em nós ao enviar a mensagem...Hoje quero abordar o que realmente é apreendido da leitura desses e mails.
Frente a uma mensagem de motivação que nos agrada, nosso primeiro pensamento é repassá-la para os amigos: "acho que Fulano está precisando ler isso", "faria bem para Sicrano", "Beltrano gostará disso"... Mensagens de motivação via e mail cumprem, nessa era de Internet, o papel dos antigos conselhos...aqueles mesmos pelos quais torcíamos o nariz; agora, com uma roupagem nova: suas lindas mensagens e sons não trazem a seriedade e o desconforto de um puxão de orelhas dado tête-à-tête...
Terminada a leitura, até que nos emocionamos, pois parece que alí há sempre uma verdade; porém, nosso primeiro impulso é encaminhá-la com a mesma rapidez irrefletida com que abriremos outra...Embutido nesse gesto encontram-se os desejos pelo assenhorear-se do conhecimento fácil (algo parecido com o assistir dos telejornais...mas disto falarei em outra oportunidade...) e de mudar o outro e não a nós mesmos - porque é sempre mais fácil uma mudança externa...
Será que realmente paramos para refletir após a leitura de uma dessas mensagens? Considero de pouca valia ler a Bíblia, ensinamentos dos grandes mestres, tratados de Ética etc., se não nos dispusermos a apreender a essência do que é transmitido. A simples leitura de algo não se transforma em conhecimento pelo simples motivo de que a teoria não nos torna experientes! A impressão que fica - tanto para aquele que repassa as mensagens, quanto para quem as recebe - é a daquela velha frase: "Faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço" . É bom pensarmos nisso (e isso vale pra mim também...).

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O colar perdido


Lembrei-me de um conto...Num reino distante, um certo dia, a princesa - filha única - perdeu um valiosíssimo colar. O rei, vendo-a desconsolada, ofereceu uma quantia estupenda para quem à filha devolvesse o colar. Todos foram à sua procura na esperança de encontrá-lo e ter uma vida sem dificuldades financeiras...

Houve um jovem que, ao chegar à beira de um lago - conhecido pela imundície de suas águas, pois nele desembocavam todos os dejetos do reino - viu o brilho de algo que julgou ser o colar. Venceu o nojo e, em sua ânsia, jogou-se no lago...Sujou-se todo e, a cada vez que pensava agarrar o colar, este lhe escapava e, mais se sujava...mais aumentando assim seu desejo de pegá-lo. Coberto de imundícies, percebeu um ancião dele se aproximar; teve receio de lhe falar de sua dificuldade, não queria dividir um prêmio tão grande...Com muito custo, o velho senhor o convenceu a aceitar sua ajuda, pois não lhe interessava o prêmio. Pois bem, sabem o que ele disse?:-Olhe para cima!". Quando o jovem assim fez, avistou o colar preso a um galho de árvore...aquilo pelo qual tanto se sujara, não passava de um reflexo...

Pensei em quantas vezes vemos nossos representantes (Democracia?) se enlamearem seduzidos pelo reflexo de um brilho, pela sede ávida da subida rápida...Pensei em como nos tornamos egoístas quando vislumbramos uma possibilidade de enriquecer facilmente (todos dizem que, se um dia ganharem na loteria, por exemplo,farão muito por outras pesoas, dividirão o dinheiro...sinceramente...nem nós mesmos acreditamos nisso! Pensei que temos um ladinho que precisamos burilar para não atropelarmos o outro com nossa subida...É bom pensar nisso... não precisamos nos sujar; basta subir.Afinal, o que faremos se chegarmos ao topo sós? Pode ser que até nos sintamos semi deuses, mas de barro e com os pés sujos...Será que vale à pena?

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sobre e mails sujos



A algum tempo comecei uma "campanha" de conscientização entre meus amigos sobre o envio de mensagens nesses tempos de Internet. Na maior parte das vezes, minhas mensagens contêm minha assinatura seguida de um abraço. Um dia, qual não foi minha surpresa ao receber o mesmo e mail (exatamente como o enviei: com meu papel de carta, minha assinatura e meu abraço!) numa lista de amigos de outra pessoa! Outras vezes, e já virou rotina, tenho de excluir vários spams...

Tentei alertar as pessoas sobre o risco que todos nós corremos ao enviar um e mail "sujo". E o que é isso? É aquele que mostra os nomes dos outros destinatários, que já vem com "Enc", "Fw", "From', aquele em que o histórico dos outros remetentes não foi apagado, com uma lista de antivírus ou propaganda no final da mensagem...

Constatei que minha "campanha" não teve êxito...as pessoas continuam me enviando e mails sujos. Um dia recebí uma mensagem que informava em anexo como deveríamos mandar um e mail (lá explicava tudo o que venho tentando explicar...); só que a pessoa que ma enviou fez exatamente o contrário do que a mensagem transmitiu!

Não sei o que pensar disso...Será ingenuidade? Será aquela confiança - até meio religiosa e infantil - em que "isso não vai acontecer comigo, só acontece com os outros" (como o jovem que, irresponsavelmente, dirige bêbado ou não usa preservativo...)? O que sei é que no tempo em que escrevíamos cartas, a não ser que fossem comerciais e abertas ao público, havia uma cumplicidade entre o remetente e o destinatário - e só entre eles .Correspondência era algo pessoal e sua violação era considerada crime. Sei também que, desafortunadamente, fui vítima de pessoas inescrupulosas que só conseguiram me atingir porque tiveram acesso a um "e mail sujo". Sei que o risco é real e não fictício. Sei que, por respeito aos meus amigos, envio mensagens - com cópia oculta ou pessoais- de teor diversificado, seguidas de minha assinatura e meu abraço...apenas isso. Não tenho garantia nenhuma de que outras pessoas - que não conheço - não terão acesso ao meu endereço; porém, como gotinha de água a querer encher um copo, faço minha parte protegendo e respeitando a privacidade daqueles que me são caros...

Sobre Preconceito

Dia 11 de julho de 2008, na clínica de Lichtenberg ( Berlim ), um casal alemão teve gêmeos de cor de pele diferente; um branco, outro negro. Leo e Ryan, cuja mãe é originária de Gana (África Ocidental ), são filhos de um alemão da localidade de Potsdam; são gêmeos bivitelinos, oriundos de uma dupla ovulação. Quando lí essa notícia não pude deixar de pensar em Hitler... O que diria esse ferrenho defensor da "pureza da raça ariana" num episódio desses? Creio que consideraria uma aberração dupla: o casamento de um alemão com uma africana e o nascimento escandaloso de um alemãozinho negro!
A questão do preconceito ( conceito formado previamente ) é complexa: esbarra na ignorância ( no sentido de não conhecimento ) ; alimenta suas raízes na cultura de um povo; impõe-se nas opiniões de quem tem o poder de ditá-las e, por vezes, descamba no fanatismo - em suas várias manifestações: religiosas, racistas etc. Impõe-se pela força, pelo temor reverencial...até que o reinado rua por um confronto, pela aeração de novas idéias ( como o que, de certa forma, aconteceu com Jesus ao sacudir a poeira milenar acumulada na religião então vigente ).
Somos testemunhas , pela História, dos horrores provenientes das opiniões pré-formadas; dos estragos que um dogma pode causar; da bestialização que o fanatismo promove em um homem...Extermínio de judeus, guerra de religiões (!?), perseguição às minorias e àquele que ousa ser diferente, na verdade, encobrem fragilidades disfarçadas pelo poder em fortalezas. A titulo de singelo exemplo, quando pensamos em religiões, qual delas não teve inicialmente um caráter impositor? Lembremo-nos das Cruzadas, dos índios à época do Brasil-colônia, dos faraós, das afro, orientais, do Velho Testamento, do Alcorão...
Em Medicina Veterinária sabemos que um plantel que não seja renovado com matrizes, reprodutores externos de qualidade padecerá de deteriorações, degenerações, debilidades intrínsecas ao rebanho devido ao seu isolamento...Da Ciência sabemos que uma mente que rejeita o novo enrigece, envelhece mais rápido e acumula uma carga de sofrimento inútil e tóxico dentro de sí...Pela História, sabemos que populações indígenas foram dizimadas por doenças devido ao contato com o "homem branco" após a "descoberta" da América...Sentí-me muito bem ao ler a notícia do nascimento dos gêmeos de cor de pele diferente no seio da Alemanha! Hitler...rest in peace...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Certezas inabaláveis


"Um homem estava a colocar flores na sepultura de um parente quando, ao seu lado, na sepultura vizinha, um chinês colocou um prato de arroz. Voltando-se para ele o homem perguntou: - Você acredita que o defunto comerá o arroz? - Sim! - respondeu o chinês...quando o seu familiar defunto vier cheirar as suas flores..."


Penso que a origem de todas as guerras ( seja entre países, facções políticas, ou mesmo no seio familiar ) está na intolerância. O pomo da discórdia reside no outro - que diverge do que pensamos. Não nos damos ao trabalho de pensar no porquê do outro se agrilhoar ao que considera justo, correto, pois nossas certezas, uma vez adquiridas, são férreas. Creio que uma das provas mais difíceis é aquela em que a Vida nos coloca exatamente do lado oposto, isto é, passamos a ser vistos, rotulados como aqueles pelos quais torcíamos o nariz...Essa é uma situação que pode nos surpreender quando, desafortunadamente, perdemos riquezas materiais, ou ficamos incapacitados devido a algum acidente ou doença grave, quando pessoas que nos são caras se desviam do nosso padrão de normalidade, quando - e isso é terrível - somos salvos por um inimigo ( leia-se aqui: o que destoa de nossos padrões de beleza, opção sexual, fortuna, cor da pele, religião etc., etc...E então nossas certezas se abalam...Passamos a não nos conhecer pela ótica do outro e a encontrar uma nova pessoa, a nós assemelhada, na figura do "inimigo"...Como pode isso? Nossa realidade é construída com bloquinhos de verdades que, ou nos são impostas ou são por nós mesmos moldadas ao longo desse aprendizado chamado Vida. Assim, para não corrermos o risco de que nosso edifício mental seja abalado ao menor sopro do lobo, com o tempo, perdemos plasticidade, enrijecemos nossas engrenagens mentais por falta de dar-lhes uma manutenção diária e eficaz: o questionar do novo, o diálogo com o diverso, o arguir do dogma... Minha proposta para hoje é que oxigenemos a água parada que se acumulou em alguns recantos de nossa mente...água essa que contamina por estar estagnada, água em que outros poderão matar - errônea e descuidadamente _ a sede de aprendizagem ao beber de nossos preconceitos, de nossas certezas inabaláveis...

domingo, 20 de setembro de 2009

Solitude


Desde a primeira vez que ouví essa palavra - em um filme, não me lembro o nome - apaixonei-me por ela...Tem palavras que são assim, conseguem expressar com perfeição um estado, um sentimento, são plenas de significado no que se propoem a descrever...Quando não conseguimos dizer algo, elas nos auxiliam de uma forma esplêndida...Saudade é uma palavra assim...interessante que só existe em nosso bom português...
Pois bem, solitude é algo como uma fusão entre solidão e atitude; é um estado dinâmico, interativo entre eu e eu mesma...Lá cabe o outro? Sim, se ele me respeita e me ladeia - lá cabe um sem número de pessoas mas, há o distanciamento necessário para se auto aperceber...Não tem a carga de tristeza associada à palavra solidão, nem o extremo dinamismo da palavra atitude. Não se pode dizer: estou com solitude e sim, estou em solitude. Não há tristeza, sentimento do vazio, desconsolo, a sensação da falta do outro associados à palavra solidão; muito menos aquele impulso à ação rápida, à guinada necessária frente a determinada situação (associado à palavra atitude)...Há aqui um amálgama entre solilóquio e interação. Quando estamos em solitude apercebêmo-nos do outro mas, vêmo-lo como um companheiro de jornada - ser pleno que também tem suas solitudes...ou não...que está ao nosso lado - mesmo que esteja a milhares de quilômetros ou mesmo que já tenha morrido (quase o mesmo, às vezes).
Solitude é uma palavra magnífica - produto de uma mente privilegiada que um dia a criou poeticamente...assim como nossa palavra saudade...Um brinde àqueles que tão bem sabem expressar algo tão complexo e sutil: um estado de ser, um sentimento!